Muitos são os estereótipos do que é, ou deve ser, uma mulher bonita. E “não admira que a nossa percepção da beleza esteja distorcida” com esta fruta toda. Mas quando uma mulher deixa de ser uma pessoa para passar a ser um mero constructo social, podemos, ainda, admitir que estamos a falar de uma mulher? Estaremos, ainda, a falar de algo verdadeiro, real? Que existe efectivamente?
No fundo, podemos dizer que estamos, ainda, a ver uma mulher bonita? E se sim, como? Se ela não é mais uma mulher, mas apenas uma invenção, uma ilusão, uma mentira, algo que não existe?
E levando isto em consideração, porque damos ouvidos a esses criadores de estereótipos falsos? Porque deixamos que sejam eles a ditar o nosso próprio padrão de beleza? Afinal, quem é que nos define se não o nosso livre-arbítrio e as pessoas que estão mais próximas de nós e nos apreciam exactamente como somos?
Em tempos, Fernando Pessoa respondeu a estas perguntas da seguinte forma:
“Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter, repugná-la-íamos, se a tivéssemos. O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito.”
Existir é condição essencial para se ser bonita. De que vale tentarmos ser perfeitas ou imitarmos as imagens difundidas pelos media quando não passam de uma farsa?
Aqui o problema vai para além dos media. Cada sociedade contém em si estereótipos, preconceitos e padrões de beleza. As próprias pessoas que estão mais próximas de nós e que “nos apreciam exactamente como somos” distinguem uma mulher bonita de outra que não é segundo esse conjunto de ‘normas’ pré-adquiridas.
ResponderEliminarNa nossa cultura a mulher não deve ter excesso de peso. E em outras culturas e em outros tempos isso não seria exactamente assim porque ‘gordura’ significava dinheiro. Portanto, julgo que quando mais difícil é o acesso a algo, mais tendência existe para padronizar justamente essa miragem.
Tomo outro exemplo. As mulheres, outrora, ‘deveriam’ ter pele branca, exactamente para se distinguir dos escravos e dos agricultores, tradicionalmente de pele escura. Será que o raro se torna belo e se forma assim uma espécie de interdependência?
Concordo que a ajuda dos media contribua bastante mas cabe também ao próprio espectador ter uma atitude critica. Antes de qualquer coisa. Uma atitude crítica é fundamental.
Caro anónimo,
ResponderEliminarnão tentávamos circunscrever a origem do problema ao meio mediático. Os estereótipos, preconceitos e padrões de beleza existem e a sua manutenção é feita, diariamente, por várias pessoas em vários momentos nos mais diversos locais. Inclusive nas pessoas que estão mais próximas de nós.
Focamos, ainda assim, os órgãos de comunicação, pois apercebemo-nos do largo âmbito a que conseguem chegar. O facto de conseguirem, rapidamente, difundir estereótipos enganadores do que é a beleza, aliado à capacidade de os fazer chegar a tão grande número de pessoas, é preocupante.
Para além disto, e sendo estudantes de um curso de ciências da comunicação, vemos nos media aquilo que deveria ser a personificação de “cães de guarda”da sociedade civil e, tantas vezes, não o é.
Quanto ao ponto interessante que apontou – de os próprios contactos e impressões entre as pessoas serem influenciados segundo as normas estabelecidas – apoiámo-nos na sua frase “antes de qualquer coisa. Uma atitude crítica é fundamental”, com a qual não podíamos concordar mais.
Se nos permite, ainda, um contributo pessoal à outra questão, julgamos que, talvez, a semântica possa ajudar: “Vulgar”, em oposição a “raro”, adquiriu uma conotoção bastante negativa nos dias que correm. Ninguém quer ser vulgar, todos querem ser “diferentes”, e existe um esforço exacerbado em o conseguir quando, biologicamente, a natureza já se encarregou do assunto: não existem duas pessoas com o mesmo DNA, exceptuando os gêmeos verdadeiros, e mesmo nesse caso é legítimo dizer que todos somos diferentes uns dos outros.
Ainda mais interessante é verificar a espécie de re-semantização ocorrida: no passado os “diferentes” acabavam queimados em fogueiras, hoje são “belos”.
Aparte trasnformações semânticas, no salada de fruto defendemos a diferença e, acima de tudo, a beleza. E aceitamos que uma possa levar à outra. Assim, face a dois caminhos para alcançar a beleza - tornarmo-nos artificialmente diferentes ou naturalmente diferentes - nós promovemos o segundo: mais fácil, indolor, e natural.
Se a natureza nos fez diferentes uns dos outros, não passará o truque por abraçar o “eu” natural que todos temos, maquilhá-lo com amor próprio e desfrutar, assim, da beleza?
Gratas pela sua atitude crítica. Também neste pequeno espaço electrónico ela nos parece fundamental (:
Concordo
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